Pensamento y Revolução

Pensamento y Revolução
"A emancipação do proletariado é tarefa do próprio proletariado" A História cobra muito caro pelas nossas vacilações.É hora de aprofundsar o combate pela organização internacional do proletariado.As crises do sistema capitalista se avolumam, não é chegada a hora para vacilações. Para que não se perca o trem da revolução numa nova vaga revolucionária que se avizinhe.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Mais uma vez, recebo e-mail com boas supresas.Uma análise limpa e honesta sobre esse falso moralismo Pequeno Burguês, que sai às ruas, sem grandes respaldo popular, com o slogan Fora Corrpução.Absurdo! Uma direita que nos 500 anos de Brasil se alimentou da política corrupta; uma burguesia que traz as mãos manchadas de todos os níveis de corrupção .Quando foram governo tiveram sempre o preceito de empurrar o lixo para debaixo do tapete,demitiram o chefe da Polícia Federal para impedir que ele levasse as investigações que poderiam atingir o governo FHC.Durante a Ditadura exerciam uma censura absoluta e vendiam a imagem de que o país era um mar de rosas e que os militares e a direita eram o exemplo de moralidade.Em nome desta moralidade e com o instrumento da censura puderam ceifar a vida de tantos companheiros e desviar milhões de dolares. Agora com todos seus acertos e desacertos, quando um governo dirigido pelo Partido dos Trabalhadores expõe as feridas do sistema, a pequena burguesia se faz de indignada. E uma esquerda irresponsável, se une a essa direita acenando as mesmas bandeiras sem se dar conta dos objetivos excusos que se escondem atrás destas manifestações chamadas pela direita. Parabéns ao companheiro Percy que assina a matéria e o querido companheiro Alfredo que me enviou o e-mail.[  
Ana Fuentes Garcia
Reflexão sobre a luta contra a corrupção. Debate muito importante para a esquerda na atual etapa da luta política, principalmente no Brasil. 
Qual deve ser a política da esquerda diante da corrupção?
13 de setembro de 2011
No último 7 de setembro, além das tradicionais manifestações do Grito dos Excluídos, promovidas pela Igreja e por organizações de esquerda, em várias capitais do país ocorreram manifestações contra a corrupção.
Apesar da propaganda de que os protestos teriam sido “espontâneos” e chamados unicamente pela rede social facebook, não pode haver dúvida de que ele foi de fato organizado pela direita. Não só pelo enorme destaque que toda a imprensa burguesa deu à manifestação, mas inclusive pelas participações “ilustres”, como a do senador Álvaro Dias (PSDB) que acompanhou a marcha e no dia seguinte fez pronunciamento saudando os participantes e o presidente nacional da OAB, Ophir Cavalcante.
Em São Paulo, onde a manifestação foi mais fraca, não passando de 500 pessoas, segundo O Estado de S. Paulo, chegaram a destacar que ela era uma reedição do movimento “Cansei”, à época notoriamente organizado por figuras da direita e da alta burguesia, como o então presidente da Philips e apoiado da Febraban (Federação dos Bancos) e outras organizações da burguesia.
Outro traço direitista típico foi a insistência no caráter apartidário do ato, impedindo a participação de figuras públicas no ato e até mesmo que se levantassem bandeiras de organizações políticas.
Um dos partidos que não puderam mostrar suas bandeiras foi o Psol, grande entusiasta do ato contra a corrupção.
Que a manifestação seja apoiada pelo senador do PSDB, e certamente por todo o partido, é natural, pois a crítica à corrupção é o típico instrumento da direita para, geralmente por meio da pequena burguesia. combater os governos burgueses de tipo nacionalista ou de esquerda.
Mas quem está engrossando em grande medida essas manifestações, é a própria esquerda pequeno-burguesa, como PSOL e PSTU. Em Brasília, não só o PSOL, mas outras organizações de esquerda participaram da manifestação contra a corrupção, enquanto o Grito dos Excluídos tinha o mesmo mote. Em Minas Gerais, os dois atos chegaram a se fundir, como noticiou alegremente o PSTU em seu site.
Tanto PSOL como PSTU são grandes entusiastas da luta contra a corrupção, o que só os torna grandes colaboradores da direita brasileira.

O empenho em combater o governo do PT, que é evidentemente corrupto, esconde que os outros, em especial a oposição burguesa, também são.
É evidente que a acusação de corrupção é a principal arma da direita contra o governo do PT e se a questão está sendo levantada não é porque queiram moralizar o Estado, mas sim para desmoralizar o PT com vistas às eleições de 2012.
A campanha contra a corrupção foi o grande mote da direita no século XX. Foi o lema da direita pró-imperialista argentina contra Perón, assim como o foi contra Getúlio Vargas. Foi assim a grande isca com que a direita fisgou a pequena burguesia em toda a America Latina para defender seus interesses contra os governos nacionalistas ou esquerdistas, servindo invariavelmente como preparação para os golpes militares.
O fato de a esquerda pequeno-burguesa embarcar com tudo nessa campanha mostra a desorientação, no que diz respeito à luta dos trabalhadores, e um alinhamento com a direita pró-imperialista.
Os trabalhadores não devem se iludir com a fantasia da luta contra a corrupção. A corrupção é a base de funcionamento da sociedade capitalista, de modo que não há corruptos e honestos, mas apenas corruptos. O Congresso Nacional não pode ser moralizado. Não são apenas os corruptos do PT, PCdoB e PMDB que tem que sair. É preciso em primeiro lugar repudiar as tentativas de substituir o Congresso Nacional corrupto por qualquer outra fórmula mágica apresentada para solucionar o problema, como os juízes, o Executivo, as forças armadas, que acabam sempre se revelando mais corruptos que seus antecessores. Em lugar disso, é preciso exigir o “fora todos eles” com vistas a um governo dos trabalhadores.
Perci Marrara
twitter: percimarrara29

domingo, 11 de setembro de 2011

O 11 de setembro americano

Cansada de tanta lamúria midiática sobre o  11 de setembro americano. Indignada diante do silêncio sobre o 11 de setembro Chileno que provocou a morte de Allende, milhares de chilenos, a prisão e tortura de tanos outros por um golpe militar orquestrado pela CIA e pelo governo americano (como foi o do Brasil, do Uruguai, da Argentina e tantas guerras promovidas por esse mesmo governo em todo mundo, sem esquecer o genocídio de Hiroshima e Nagasaki- crimes  que Nuerembergue nunca cogitou de julgar). Recebo um e-mail com esse artigo que socializo com   Esse artigo foi escrito há 10 anos quando a poeira das Torres Gemeas ainda não haviam baixado. E o mundo via atônico o grande império acostumado a atacar outros paises, serem atacado.É importante reflexão que devemos fazer  em respeito a história da humanidade e as possibilidades de um futuro. Ana Fuentes Garcia
Desgraçadamente sempre há os escombros que caem sobre os de baixo

Maurício Campos

Na estética [de gosto duvidoso] dos filmes-catástrofe, livros-catástrofe e arte-catástrofe em geral da cultura dos EUA, quase nunca há espaço para o day after (1): as imagens e a narrativa acabam quando as ruínas ainda estão fumegantes e os cadáveres insepultos, parece que não interessam nada as prosaicas questões de reconstrução ou reordenamento material e social, mesmo quando meio mundo foi destruído. Mas, contra todas as aparências, é bom lembrar que estamos vivendo a real life, e nesta o que importa mesmo é o que vem depois. O espetáculo acabou, ao menos por ora. Já é hora de começarmos a pensar nos aprofundamentos de tendências ou mudanças que nos aguardam, pois elas virão rápido.
Uma das mudanças mais previsíveis é na própria sensibilidade estética de massas. Podemos presumir com segurança que cada vez mais pessoas começarão a considerar de mau gosto entreter-se com cenas e enredos de destruição em larga escala e morticínios em massa, depois de os terem experimentado à vera e de perto. Afinal, alguém ainda tem dúvida sobre no que se inspiraram os idealizadores e executores das ações de 11 de setembro? Há nessa mudança de gosto algo de muito importante, além dos eventuais prejuízos de Hollywood: uma sensibilidade diferente, não mais a indiferença insultante, em relação aos horrores cotidianos de massacres e destruição que o capitalismo-gIobalização espalha mundo afora. Claro que sensibilidade estética ou sensibilidade em geral não quer dizer consciência social elaborada. Tornar-se capaz de horrorizar-se com o horror é uma coisa, correlacionar o horror com a realidade construída pelo domínio do capitalismo-globalização é outra bem diferente e não decorre necessariamente da primeira. Mas já é um bom começo que a crosta de insensibilidade social que recobre a minoria humana que se beneficia [ou que não sofre tão diretamente] das conseqüências do capitalismo-destruição esteja um pouco mais fraturada.

* * *
Guerra. Estado de guerra. Terceira Guerra Mundial. Boa parte da humanidade falou, murmurou ou pensou nisso nos últimos dias. A outra parte escutou. É mais ou menos isso mesmo que nos espera. Mais e menos.
"Terceira Guerra Mundial" certamente é uma expressão imprópria, não por falar de "guerra", mas por falar de "terceira", o que sugere continuidade ou comparação com as primeira e segunda. Essas duas foram as expressões historicamente "maduras" do tipo convencional de guerra moderna, confrontos de grandes proporções entre Estados economicamente dominantes e fortemente armados. Após a II Guerra Mundial, ou no máximo após a Guerra da Coréia, esse tipo convencional de guerra tornou-se cada vez mais periférico. Os Estados que se confrontaram diretamente enquanto Estados no último meio século não foram os Estados dominantes do planeta: Índia e Paquistão, Etiópia e Somália, China e Vietnam, Irã e Iraque, Israel e países árabes, etc. Aliás, o caso do conflito no Oriente Médio ilustra claramente a transição: de 1948 a 1973 foi uma guerra entre Estados, depois disso uma guerra não convencional de um Estado [Israel] contra um povo não enquadrado num Estado [os palestinos e partes importantes de libaneses, sírios, jordanianos, árabes em geral].
É verdade que Estados dominantes confrontaram-se diretamente com outros Estados, mas isso foi menos exemplos de guerra convencional que massacres absolutamente desproporcionais, sem chance para o oponente mais fraco: guerra das Malvinas, do Golfo e, exemplo extremo, a invasão de Granada pelos EUA. Tanto que não foram os conflitos mais difíceis para os Estados dominantes envolvidos: a Grã-Bretanha teve muito mais perdas nos conflitos não convencionais com os guerrilheiros malaios e irlandeses que contra a Argentina nas Malvinas; os EUA tiveram sua única derrota militar universalmente reconhecida na guerra não convencional contra o povo vietnamita.
A existência da potência militar independente da União Soviética durante quase cinqüenta anos sustentou a ilusão de que a grande guerra convencional era uma possibilidade real, portanto ainda uma realidade. Hoje deve estar claro que a era das guerras convencionais entre grandes Estados acabou. Não acabou por acaso, acabou porque o desenvolvimento mundial do capitalismo criou tais vínculos e associações entre as diferentes frações "nacionais" da classe dominante que não há mais como nenhuma delas querer se impor sobre outras através do poder militar de seus Estados. As únicas guerras convencionais que continuam e continuarão são paródias de "grandes guerras": ou são guerras entre Estados periféricos ou são massacres unilaterais de um pequeno Estado por um Estado dominante (2).
Mas Bush, Powell e Cia. não estão planejando sua "retaliação" imediata nos quadros da guerra convencional? Não querem mais uma vez exibir em movimento de destruição suas forças convencionais, jatos, mísseis, porta-aviões e tanques? Bem, isso é um movimento secundário dirigido a um alvo secundário, em parte por cálculo, em parte por desorientação mesmo.
Por cálculo, porque a burguesia mundial nunca deixa passar uma boa oportunidade para ações militares convencionais de grande envergadura que aqueçam seu mercado armamentista (3) [hoje em dia quase totalmente sustentado pelos gastos militares norte-americanos], principalmente em épocas de decréscimo das taxas de acumulação de capital ["recessão"] como a atual [e como foi na época da guerra do Golfo]. Por desorientação ou costume, porque aos capitalistas custa reconhecer que toda a fabulosa máquina estatal-militar de guerra convencional que montaram ao longo de pelo menos três séculos já não é o instrumento mais adequado para combater os seus inimigos principais, que desenvolveram as formas mais inventivas e ousadas de guerra não convencional no último meio século. Finalmente, há uma terceira
razão, de ordem estético-psicológica: os ataques de 11 de setembro foram espetaculares, a cultura cinematográfica norte-americana praticamente obriga que a "resposta" também seja espetacular. Mas a única maneira de se fazer algo espetacular a curto prazo é lançando mão dos armamentos convencionais de destruição total, e isso só tem sentido contra Estados.
Enfim, por várias razões, mais ou menos lógicas, fica agora mais claro que nunca porque interessa ao capitalismo-aniquilação manter um estoque permanente de "Estados-párias", sobre os quais possa periodicamente lançar mísseis e bombas, eventualmente invadir com tropas terrestres. Os maiores candidatos a bola da vez são, é óbvio, o Afeganistão e o Iraque. O último já está isolado mesmo há uma década, é governado por um presidente internacionalmente detestado, e parece que ninguém ligou muito mesmo para o tremendo sofrimento que desde a guerra do Golfo atravessa o povo iraquiano. Já o Afeganistão é governado pelo isoladíssimo, homófobo, machista, teocrático e intolerante regime talibã; até alguém lembrar que, num ataque maciço dos EUA-OTAN, quem vai estar morrendo mesmo são crianças, jovens, mulheres e homens comuns que já sofreram uma cota imensa de horror nos últimos vinte anos, o estrago já terá sido feito. Que deus, jeová e alá tenham piedade dos afegãos e iraquianos, porque poucos seres de carne e osso no planeta terão.

* * *
A "retaliação" convencional dos EUA-Ocidente é tão certa como será inútil, se o objetivo for prevenir outros ataques como o de 11 de setembro. Na verdade, uma guerra convencional-massacre contra Estados sem nenhuma condição de defesa só irá acentuar a realidade que, em última análise, justifica a proliferação de grupos extremistas capazes de realizar aqueles ataques: países, etnias, povos e culturas inteiras levadas a situações-limite pelo capitalismo-globalização, de modo que não têm mais nada a perder e nenhuma perspectiva, a não ser a vingança pura e simples.
No fundo os governantes do capitalismo-carnificina desconfiam disto, por isso suas reações após o ataque foram bastante contraditórias. Por um lado, Bush e Powell agiram como aprenderam na diplomacia belicista tradicional, "declararam guerra" [a ninguém e portanto a todo mundo], buscam uma coalizão internacional, mobilizam tropas, pedem créditos de guerra, lançam ultimatos, etc. Tudo previsível e programado. Porém, na hora de identificar os inimigos a serem atacados, só conseguiram apontar para abstrações [o "terrorismo", o "extremismo", etc.], e uma guerra contra abstrações só pode ser uma guerra religiosa. A linguagem de guerra santa do Ocidente, que andava em baixa desde os rompantes mais alucinados de Reagan, reapareceu apocalíptica: "foi um ataque à civilização", "luta entre o bem e o mal", "quem não está conosco está contra nós", "vamos caçá-los'', "vamos pegá-los", tudo isso foi lançado à cara do mundo por rostos que transpareciam mais perplexidade que raiva.
A perplexidade dos donos do mundo é conseqüência do fato dos ataques de 11 de setembro terem derrubado de uma só vez algumas convicções arraigadas ou cálculos político-militares que até agora haviam norteado suas ações. Em primeiro lugar, os EUA nunca sofreram em seu território um ataque de grandes proporções, desde a guerra de independência há mais de duzentos anos. Nem na II Guerra Mundial as fabulosas máquinas de guerra da Alemanha ou do Japão haviam conseguido atingir algum objetivo importante nos EUA, muito menos um alvo militar tão representativo como o Pentágono. Desde o fim da guerra fria, esse balanço bicentenário parecia coroar-se numa situação de virtual invulnerabilidade, quando nem a ameaça de um ataque em seu território parecia existir.
Em segundo lugar, as formas de guerra não convencional são obviamente conhecidas e estuda-
das pela cúpula militar-estratégica do Ocidente, mas era uma opinião bastante dominante a de que a guerra não convencional, que não usa os recursos de Estados
, não era capaz de ações destrutivas de larga escala nem de atingir alvos militares de primeira ordem. Algum ataque dessa ordem, especulava-se, só era verossímil partindo de Estados que possuíssem tecnologia de mísseis transcontinentais, daí a possessa defesa de Bush de abandono do tratado [já com trinta anos de vigência] que proibia os mísseis anti-balísticos (4). Mesmo após o atentado, e contra todas as evidências, muitos auto-intitulados "analistas" continuam afirmando que, pelas suas dimensões, devem existir "Estados" por trás. Tolice. O total de recursos financeiros necessários a viabilizar a operação foi, provavelmente, bem inferior ao necessário a adquirir no mercado negro de armas meio milhar de fuzis, por exemplo. Há centenas ou milhares de grupos [armados e não-armados] no mundo inteiro com estrutura material/financeira para isso. Na verdade, o que fica hoje escandalosamente evidente, é que o próprio capitalismo-globalização, com seu gigantismo e sua sofisticação tecnológica, cria os meios e as oportunidades para grandes atos de destruição sem que seja necessário recorrer aos meios convencionais dos Estados. Nada mais que uma relativamente pequena quantidade de explosivos, colocados em pontos críticos das estruturas, é necessário para por abaixo a Golden Gate, a Torre Eiffel ou o Big Ben, por exemplo. Uma sabotagem relativamente simples numa usina termonuclear pode gerar um desastre de proporções medonhas. Pequenos grupos podem, hoje, adquirir de máfias diversas no Leste europeu pequenos artefatos nucleares ou quantidades apreciáveis de material químico-biológico, suficientes para massacres da mesma dimensão dos produzidos por bombardeios aéreos pesados. Até 11 de setembro, pouca gente acreditava que houvessem organizações e grupos [fora alguns Estados, como os próprios EUA] dispostos a executar ações como essas. Quem hoje duvida que eles existem?
Chegamos assim à terceira e, talvez, mais importante, reviravolta produzida pelos atentados nas doutrinas estratégicas convencionais [e mesmo não-convencionais] do Ocidente. As forças armadas do capital já têm uma experiência de quase um século com as diversas formas de guerrilhas, guerras populares, levantes insurrecionais e outras formas de luta armada não-convencional desenvolvidas pelos revolucionários sociais [socialistas, comunistas, anarquistas, etc.]. Não aprenderam, é claro, a nos derrotar, mas nos conhecem bem, estudam nossos modos de agir e de pensar, nossas teorias e táticas. Mas guerra convencional levada a cabo não por combatentes que buscam objetivos seculares [a revolução social], mas por grupos de inspiração religiosa ou étnica cujo objetivo muitas vezes é a destruição ou a vingança pura e simples, é uma grande novidade, é algo que passou a existir em proporções ameaçadoras [para o capital] somente no último quarto de século. Por mais semelhanças formais que existam entre os dois tipos de guerra não convencional, há diferenças fundamentais que desorientam completamente as forças da ordem.
Para os revolucionários sociais, atentados e ataques "espetaculares" contra alvos especialmente
significativos nunca foram meramente descartados
, mas sempre ocuparam um papel secundário e bem específico dentro de uma estratégia geral inseparável da mobilização e levante de massas. "Atentados" podem ter um papel propagandístico e tático [para libertação de companheiros presos, por exemplo] importante em determinados momentos, mas sempre estiveram subordinados à sua apropriada repercussão político-social. Uma ação localizada de ataque, se não for para destruir materialmente bases logísticas ou arsenais do inimigo, só faz sentido se servir para divulgação da causa, se repercutir favoravelmente sobre parcela apreciável da população. Por isso, e não apenas por razões "humanitárias" abstratas [e geralmente invocadas hipocritamente], alvos civis não são alvos válidos e a quantidade de vítimas deve ser a menor possível (5).
Todas estas considerações e toda essa psicologia não existem em ações de grupos que buscam simplesmente a vingança ou a desorientação do inimigo pelo terror, que não estão empenhados em construir uma maioria social organizada tendo em vista a revolução da sociedade. Sem dúvida esses grupos e movimentos nascem de realidades sociais bem concretas: são povos, etnias, culturas e religiões espezinhadas e massacradas pelo capitalismo-terrorismo; são pessoas cujas perspectivas de progresso [dentro de seus valores] ou mesmo de sobrevivência foram anuladas e que, sem uma alternativa de revolução, só podem pensar em reagir e se vingar de qualquer maneira, desde que tenham os meios e conhecimentos para tal.
E os meios e conhecimentos, ironicamente, acabaram sendo fornecidos pela própria política
contra-insurgente do capitalismo-contra-revolução. Os estrategistas do capital, à medida que sentiam sua impotência para derrotar militarmente as formas de guerra não-convencional levadas a cabo pela revolução social
, começaram a apelar para todo tipo de força social potencialmente contra-revolucionária com quem pudessem se aliar. Rivalidades étnicas e tribais, chauvinismos, fundamentalismos religiosos (6), comércio de drogas, máfias, neofascismo, tudo passou a ser estimulado de maneira calculada, grupos passaram a ser treinados, armados e financiados, desde que voltassem seus recursos contra a revolução social. Pois os grupos aprenderam, profissionalizaram-se, cresceram além do esperado [impulsionados pela desagregação social produzida pelo capitalismo-globalização] e, em determinada altura, passaram a agir autonomamente e contra os antigos aliados "ocidentais" quando seus interesses ou valores entraram em rota de colisão. Um novo tipo de inimigo cresceu diante do capital, potente, imprevisível, desesperado. O capitalismo-irracionalismo passou a ser atacado pelos próprios demônios que conjurou contra a revolução.
Então, a guerra que começa ou se aprofunda agora é uma guerra não convencional, mas não é a
simple
s continuidade da guerra entre o capital e a revolução social da qual conhecemos razoavelmente as formas e conseqüências. A guerra mundial não convencional de classes prossegue, mas agora paralela ou misturada com outra guerra, que não é revolucionária mas é inesperadamente destrutiva, e que se desenvolve conforme padrões ainda não totalmente conhecidos. Como toda guerra não convencional, ela não se declara, não tem prazo determinado, é travada "nas sombras" a maior parte do tempo. Nela, as garbosas tropas convencionais passam para o segundo plano, e as forças da ordem principais passam . a ser as corruptas e violentas forças policiais e para-militares de todo tipo. A espionagem, a provocação, a tortura e a violência policial passam a contar mais na defesa do "Ocidente" que todas as estratégias militares clássicas conhecidas por generais engalanados. Se toda guerra é suja, estamos hoje diante de uma guerra imunda.

* * *
A linguagem de guerra santa ocidental adotada imediatamente após os atentados por Bush,  Powell, Blair e vários outros não é simples fruto da perplexidade, ou melhor, misturado à perplexidade
está o cálculo, de todo modo insano (7), de utilizar o recrudescimento da guerra não convencional anti-
capitalista para impor o amálgama dos inimigos na guerra em defesa do capital.
Os governantes globais têm evitado, prudentes e assustados, transformar sua guerra santa numa guerra entre o "Ocidente" e o islamismo. O capitalismo certamente não se sente forte o bastante para chamar para a briga a religião que mais cresce hoje no planeta, inclusive dentro dos EUA. Se vão conseguir por um freio na islamofobia que há pelo menos vinte anos tem sido irracional e sorrateiramente estimulada através da imprensa, do cinema e da TV, é difícil prever, mas certamente não contribuirá para isso as declarações de fundamentalismo ocidental que forneceram o contexto para suas patéticas mas nem por isso menos ameaçadoras declarações de guerra.
Bush, Powell e Cia fizeram questão de frisar que os inimigos que iriam "caçar" não eram apenas os grupos autores dos ataques de 11 de setembro, mas todos que combatiam "a democracia [burguesa]", "a liberdade [do capital explorar o mundo]", "nosso [deles] modo de vida", "nossa [deles] civilização [ocidental-capitalista]", ou seja, todos anticapitalistas, independentemente da motivação e objetivos sociais.
Se alguém tem esperança de escapar do amálgama porque é "anticapitalista" mas não é "terrorista" [quer dizer, é partidário fervoroso das formas "não-violentas" de contestação do capital], pode esquecer. A decio de agir violentamente contra qualquer movimento anticapitalista já existia antes dos atentados nos comandos estratégicos globais, ou alguém acha que o recrudescimento da repressão que ficou mais que evidente em São Paulo e Gênova foi por acaso? Ou o endurecimento dos governos contra os movimentos sociais em todas partes do mundo?
Os cruzados ocidentais já estão tomando a mídia e em pouco estarão nas ruas mostrando que quem não se declara abertamente defensor da "democracia" e do "Ocidente", quem sustenta seu anti-
capitalismo, mesmo que não seja "terrorista", "faz o jogo do terrorismo"
, pois estimula os sentimento
s anti-ocidentais e anti-americanos em particular. Reneguem suas blasfêmias, abandonem sua retórica anti-americana e anti-Ocidente [anticapitalista], confessem sua fé na "civilização" e nos "valores ocidentais", caso contrário serão "caçados" tais como os "terroristas"!
O capitalismo-fanatismo alcançará grande parte de seus objetivos, mesmo sem disparar um tiro, se conseguir que boa parte do movimento anticapitalista mundial recue para posições legalistas e de "lutas" dentro da ordem, dissolvendo-se na massa amorfa e inofensiva da esquerda reformista e burocratizada. Quem fizer isto, é claro, estará a salvo, ao menos por ora, das "retaliações" mais pesadas, pois toda a esquerda reformista mundial fez questão de mostrar, após os atentados, que estava no campo dos crentes ocidentais contra a "barbárie" do terrorismo. Certamente todas as variações do reformismo mundial, de Norberto Bobbio a Robert Kurz, apoiarão, mais ou menos envergonhados ou entusiasmados, os ataques "civilizados" dos EUA-OTAN ao Afeganistão ou ao Iraque, exatamente como fizeram há dez anos atrás durante a guerra do Golfo. Há pouca esperança de cumprirem um papel menos lamentável que o de manifestarem esperanças de que todas tragédias e violências sirvam para os poderes do mundo "reavaliarem a globalização", "desativarem os focos de tensão internacional", enfim "humanizarem" o capitalismo-misantropo.
Contra o amálgama terrorismo-anticapitalismo tentado pelos governantes globais, só há uma resposta conseqüente: construir uma verdadeira unidade anticapitalista claramente orientada para a revolução e reconstrução social [e não somente para uma indefinida "destruição do capitalismo"], que junte e funda todas as manifestações de rebeldia e resistência que cresceram à margem do reformismo e do desespero nas última décadas. Os diversos movimentos dos jovens rebeldes, as lutas camponesas e indígenas, a autodefesa dos imigrantes, as nascentes e crescentes movimentações das massas urbanas desempregadas e espoliadas, as resistências das etnias, culturas e povos oprimidos, os movimentos anti-racistas, feministas e outros contra a intolerância e a perseguição. Unidade não apenas contra o capitalismo-globalização, mas pela reconstrução socialista e revolucionária da humanidade destruída pelo capital.

Setembro de 2001

Notas:
1) A principal exceção é o próprio filme Day After, por sinal uma obra com algum objetivo crítico, portanto fora dos padrões hollywoodianos: tratava-se, em plena era Reagan, de chamar a atenção para as pavorosas conseqüências de um presumível conflito nuclear, que os projetos delirantes do governo norte-americano de então contabilizavam como algo plausível.
2) As correntes e organizações de esquerda, muitas ainda reivindicando o marxismo, que ainda não compreenderam isto e seguem prevendo "guerras imperialistas" nos moldes em que falaram Lênin e Rosa, por exemplo, no início do século XX, deveriam a esta altura se aposentar intelectualmente e parar de chamar de marxismo sua monotonia dogmática. Inclusive porque a falsa perspectiva de se contar com grandes "contradições interimperialistas" entre os Estados dominantes é uma das fontes do erro estratégico de ainda se pensar em "revoluções nacionais" que conquistassem o Estado para dele se servir para confrontar militarmente o "imperialismo" numa guerra convencional.
3) Falo aqui de "mercado armamentista" porque outra expressão usual mas equivocada que devemos parar de usar é "indústria armamentista". A rigor não existe nenhuma "indústria armamentista", as grandes indústrias que fornecem o armamento convencional pesado são as mesmas grandes corporações que dominam a "produção civil" nas áreas mecânica, aeronáutica, eletrônica, naval, petroleira, etc.
4) Claro que a argumentação da equipe militar de Bush é capciosa e, em boa parte, por trás dela estão simples interesses armamentistas e uma visão estratégica de dissuasão pela força que beira a insanidade. Mas é interessante notar que, na política militarista de Bush-Powell, anterior mesmo aos atentados, estava implícita a admissão que no mundo existem setores ferozmente anti-norte-americanos capazes de grandes ações destrutivas.
5) O tipo de ataque feito ao Pentágono [se não fosse suicida e envolvesse um avião civil cheio de passageiros] certamente seria válido por esses critérios. Já o ataque ao World Trade Center seria altamente questionável mesmo se não fosse suicida. Se é verdade que só condicionalmente podemos dizer que o WTC era um alvo puramente "civil" [pois nele encontram-se diversos escritórios de grandes corporações que abastecem o mercado armamentista], e que portanto nem todos que o freqüentavam eram "vítimas inocentes" em potencial, só a quantidade enorme de vítimas já determinou uma repercussão desfavorável à ação.
6) Que o fundamentalismo islâmico foi claramente utilizado e estimulado pelo capitalismo nos países muçulmanos contra as tendências revolucionárias seculares e mesmo islâmicas, é algo que a essa altura todo mundo sabe, embora poucos gostem de lembrar. Mas quase ninguém lembra que, já faz pelo menos quarenta anos, o fundamentalismo evangélico tem sido estimulado de perto pelos estrategistas do capital em várias partes do mundo, particularmente na América Latina, como forma de combate contra as tendências libertadoras e revolucionárias no interior do cristianismo. Que podemos esperar desse fundamentalismo "cristão" que hoje já tem uma influência assustadora?
7) Alguém ainda espera sanidade e razão da parte do capitalismo-apocalipse?

 A "globalização" também faz vítimas nos andares de cima.